
Quais são suas influências? O que/Quem te inspira?
Acho que tudo que a gente vive e consome acaba tendo influência, especialmente num trabalho criativo. Gosto bastante de estudar (bem randomicamente) alguns assuntos dentro da filosofia, psicologia, mitologia, folclore (em especial brasileiro, afro e latino americano), alquimia, tarot, ciências ocultas, psicodelia, haha.. acho que tem muitos sistemas simbólicos e estéticas super interessantes e ricas por aí e sempre que posso gosto de brincar trazendo alguma referência no meu trabalho também.
Algo que também sempre me fascinou muito desde bem nova foram expressões surrealistas e as estéticas do nonsense, do mágico e do absurdo, seja nas artes plásticas, no cinema, na literatura… Por fim, alguns artistas visuais contemporâneos que admiro muito, no momento:
– Ilustração/pintura: Paula Duró, Alejandro Sordi, Shyama Golden, Camille Chew, Evandro Marenda, Yanjun Cheng, Antonio Segura Donat, Bakea, La Boca, (studio), Marianna Tomaselli, Matias Santa Maria, Kit King;
– Colagem: Abdo Hassan, Ventral is Golden, Caro Niño Buro, Manzel Bowman;
– Tatuagem: Giena Todryk, David Peyote, Matteo Nangeroni, Winston The Whale;
– Fotografia: Elsa Bleda.
O que você acha que mulheres podem fazer para criar uma indústria mais igualitária?
Acho que isso deve ser um papel de todos, não só das mulheres. Qualquer profissional, empregador, educador, organizador de evento, produtor de conteúdo eventualmente tem a chance de escolher ter uma atitude mais inclusiva, nesse sentido. A desigualdade e falta de representatividade é um problema estrutural (e não de falta de profissionais e artistas competentes e talentosas), então ainda é algo que exige um esforço ativo de todos para ir nivelando, aos poucos. No microcosmo das minhas escolhas individuais como designer praticamente anônima, também tenho me esforçado a buscar mais referências em outras profissionais mulheres, prestigiar/compartilhar esses trabalhos, trocar idéias, apoiar/incentivar também quem está começando.
Minha namorada sempre me chama atenção por eu quase só consumir produtos culturais/intelectuais produzidas por homens – o que em grande parte é verdade. Ao escolher o que ler/ver/escutar, acabo focando no conteúdo antes de me importar com quem produz, e fatalmente isso acaba reproduzindo essa tendência óbvia e desigual sobre quem consegue sair da penumbra. Então até nesse aspecto fazer esse esforcinho de variar suas fontes tem sua importância (até porque não existe conteúdo gerado que não faça parte em algum grau do contexto e da vivência do próprio autor).









Foi importante para você trabalhar independentemente? Quais foram os maiores desafios?
Nesse primeiro ano trabalhando em casa devo ter passado por quase todos os problemas-clichê de freelancers. Ao mesmo tempo que fiz esse movimento buscando uma maior autonomia sobre meu tempo, métodos e tipos de projetos nos quais trabalho, todas essas vantagens também trazem alguns reveses. Ainda me bato muito pra conseguir estabelecer uma rotina saudável que dê conta de todo o fluxo de trabalho (que vai muito além do design) ainda mantendo meu espaço pessoal minimamente intacto. Outro enorme desafio pra mim é a parte de autopromoção e mídias sociais, esse terror, hehe. Sou muito ruim com isso… nem as pessoas do meu círculo sabem direito o que eu faço. Por sorte, por enquanto o fluxo de novos projetos tem sido legal e tem acontecido de forma bem orgânica. Mas apesar das dificuldades está sendo legal trabalhar de forma independente, chegar em projetos diferentes e poder experimentar mais.
Em qual extensão você acha que seu gênero afetou seu trabalho?
Acho que um aspecto meio sutil que é pouco falado sobre a experiência acumulada de ter nascido mulher (e que sinto que afeta muito meu trabalho) é a questão da autoconfiança. Já cresci acostumada a ser subjugada pelo fato de ser mulher (e também por sempre parecer mais nova do que sou, portanto ~uma menina). Então há um script mental que está constantemente obcecado com a perfeição e projetando esse medo da exposição e do julgamento alheio. Se você erra, não é raro esse erro ser amplificado pelo fato de você ser mulher, como se os radares estivessem mais atentos por conta disso. Especialmente se você está ocupando algum espaço que, aos olhos do machismo, “não te pertence”. Também já crescemos condicionadas a não nos projetar ou almejar determinados lugares de destaque até pelo fato de vermos poucas mulheres os ocupando. Mesmo que seja um cenário em mudança, se arriscar e construir essa confiança e atitude ainda exige bastante esforço.
explore mais o trabalho da ju!
